16.8.11
Tete - Cidade de Pó
31.5.10
nothing changes (II)
Então, desde que levara um tiro na cabeça do seu antigo colega de secretária na 2ª e 3ª classe, nunca mais foi o mesmo. O seu sonho era poder dizer “eu vou matar à paulada o filho da puta do carteiro que disparou contra mim”, mas a bala que lhe atravessou o lobo frontal do cérebro incapacitou-o de ter emoções ou sentimentos: nem, “ao menos sobrevivi”, conseguia sentir. Depois de quatro meses no hospital, teve alta. Regressou à casa onde foi baleado, limpou ele próprio o sangue ressequido que uns meses antes lhe escorreu da cabeça e decidiu jantar fora. A última vez que comera fora da prisão, de casa ou do hospital havia sido no dia anterior a espancar o turista espanhol. Nesse dia estava acompanhado da sua namorada, o que o levou a recuperar a sua antiga agenda telefónica e a convidá-la para jantar. Não se lembrava dela, mas calculava que devia ser paciente. Após o telefonema sabia que ela estava divorciada, era mãe de gémeos siameses ao mesmo tempo que mantinha o cargo de directora de vendas de um concessionário automóvel online, gostava de comida mexicana, já não jantava fora há sete ou oito meses, período que coincidia com a última vez que tivera sexo com algo que não o seu dildo, vibrador ou chuveiro de massagem, e que estava disponível para jantar no dia seguinte, pelas 20h00.
18.5.10
carta aberta à presidência
30.4.10
nothing changes
5.1.10
ano novo, vida nova
30.12.09
2010
13.11.09
21.10.09
14.10.09
where's your head?
1.10.09
29.9.09
google heart
28.9.09
25.9.09
palhaços na cidade
24.9.09
quase voar
21.9.09
a igreja precisa de amigos
17.9.09
3.9.09
o vídeo da tvi no youtube
2.9.09
cross the line
formato à minha imagem
x
31.8.09
alerta à navegação
28.8.09
h1n1
26.8.09
roots
25.8.09
bye bye motherfuckers
24.8.09
lunch time
21.8.09
london by fall
«Que é que estás a fazer, rapaz?»
A pergunta feita por aquela voz conhecida fê-lo estremecer dos pés à cabeça. Depois da hesitação inicial em responder, confessou «Pai, sofro de transtorno obsessivo-compulsivo.»
«Sofres de quê?»
Percebeu logo ali que iria ser difícil o pai aceitar essa doença, que até aí desconhecia
«Transtorno obsessivo-compulsivo. Uma doença da cabeça.»
«Doença na cabeça?! Mas o que é que essa doença faz? Podes morrer?»
Pois...
«Não, não posso morrer. Simplesmente tenho de ter as coisas muito arrumadinhas... Não tem nada de mal.»
«Ter as coisas arrumadas?»
«Sim... tem de estar tudo simétrico. Até estou a pensar arranjar um segundo cão."
«Mas tu estás parvo? O teu país declarou guerra à Alemanha há dois meses e tu queres ter as coisas arrumadas? Trata é de apanhar ratazanas e de as vender! A fome vai chegar não tarda.»
«Os clientes gostam mais assim» disse entredentes «Aumentei a venda de ratazanas só por as alinhar assim.»
«Só podes estar maluco! Na Grande Guerra não conseguia apanhar ratazanas que chegassem para tanta procura. Não precisava de as por direitinhas. Estavam dentro de um saco, aos montes. E estavam fresquinhas! Não são como estas que andas praí a vender. Apanhadas nas linhas de comboio... as minhas eram do campo. Mas tu não te dás sequer ao trabalho de percorrer 5 milhas de manhã.»
«Pai. Já lhe expliquei que sofro das costas. Não posso andar com um saco de ratazanas às costas durante 6 milhas. Não são só 5. Por isso é que comprei este carrinho de mão tão jeitoso. E não me diga mal das ratazanas, que ainda ontem me disse que não comi um estufado tão bom desde que a mãe morreu com os intestinos desmanchados.»
«Sim, mas grelhadas não prestam para nada. Parecem borracha!»
As lágrimas começaram a correr-lhe pela cara. Não aguentava mais. Possivelmente, tinha apanhado o transtorno obsessivo-compulsivo por causa do pai lhe estar sempre a ralhar e a bater com a bengala na cabeça. Decidiu que nada seria o mesmo desse dia para a frente, enquanto tentava evitar que as lágrimas caíssem para cima das ratazanas. Afagou o cão que o olhava estupefacto, retirou as duas últimas ratazanas que estavam no carro-de-mão, alinhou-as e começou a apregoar. Nem viu o pai ir embora. Nesse dia bateu o recorde de venda de ratazanas da estação de Paddington, mas não conseguiu ficar feliz.
Morreu em Fevereiro de 1941, altura em que já era conhecido como o "Certinho de Paddington Railway". Por essa altura, vendia cerca de 300 ratazanas por dia. E tinha dois cães.