17.8.09

be it

"P'ó caralho com tudo!" gritava ele esvaziando os pulmões cheios de tabaco. "P'ó caralho!!!" Estava indignado, como se podia ver. E, segundo algumas das pessoas que o conheciam, tinha razão para o estar. Confidenciavam umas às outras: "Eu não diria 'P'ó caralho!!' mas concordo com ele. Mas nunca se sabe. O Mundo é pequeno". Ele saiu a correr e há quem diga que nunca mais o viram. Eu acredito que alguém o terá visto. Principalmente as pessoas com quem ele se terá cruzado na corrida de fuga, bem como aquelas que terá encontrado no seu ponto final. Eu, pelo menos, voltei a vê-lo. Estava na fotografia da contracapa do livro da sua autobiografia publicada anos após a sua morte, algumas décadas depois da fuga e do corte com a vida passada. Os outros que o conheciam estavam mortos. Eu não. Era miúdo quando ele fugiu e gritou "P'ó caralho!!!", frase que eu nunca mais esqueci e pela qual cheguei a apanhar nas orelhas dos meus pais, por a repetir no meio da sala, quando via os desenhos animados às 7h00 da manhã. Por debaixo da fotografia, através da qual eu identificava um homem que tinha ar de avô do homem que eu realmente vi fugir, estava uma biografia colocada pela editora, que, a meio dizia que a sua mulher se tinha suicidado, depois de ter morto os filhos, tal fôra o desgosto resultante da fuga. Lido isto, voltei a olhar para a capa onde, por baixo do título, estava citada a seguinte frase do autor: "Fui, para que os meus fossem felizes".

Sem comentários: