28.7.09

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Um dia, enquanto vageava sozinho pela rua por onde ia para casa, reparou naquilo que parecera sempre lá estar: uma fila composta por alguns dos melhores livros do mundo tapava aquilo que parecia ser um velho, deitado, sem roupa. Comprou três. Um dia mais tarde, quando voltou a descer a rua, sozinho, encontrou tudo na mesma posição. Os livros vendidos não tinham sido substituídos e, pelo espaço por eles deixado, não se via pele. O velho já não estava nu, vestia uma camisola, talvez comprada com o dinheiro dos três livros que tinha vendido. Satisfeito, decidiu comprar dez livros. O espaço livre, anteriormente ocupado pelas obras da literatura, deixava mostrar desde os joelhos até à pila mirrada, mas estranhamente limpa e com os pêlos púbicos aparados. No dia seguinte, ainda sem ler qualquer um dos livros, voltou a descer a rua, agora mais rápido, até que, olhando pelo buraco deixado pelos últimos dez livros que comprara, viu umas calças castanhas. Sorriu. E comprou os restantes livros. Viu a cara do senhor. Barba de três dias e ar composto. Ao quarto dia, voltou a descer. No fundo da rua, antes da esquina que sempre lhe chamava a atenção, viu o senhor. Estava morto. Vestido com um bonito fato azul, mas morto. Perto dele, uma senhora de vestido negro comentava que "ele vivia para mostrar os seus livros". Ao quinto dia seguiu directo para casa.

25.7.09

o curso eucalipto

Como leitor assíduo de blogues, mais do que escritor, como está à vista, tenho-me deparado com toda uma vaga de "escritores" da blogosfera portuguesa que têm o curso em "Ciência Política". Ora, depois de uma breve reflexão sobre o assunto, nada mais do que cinco minutos, descansem, retirei as conclusões que enumero de seguida.

Um curso (de licenciatura ou qualquer pós-graduação) chamado "Ciência Política" levanta inúmeros problemas e preocupações (os quais, por inaptidão e alguma falta de vontade não vou explorar a fundo). Primeiro que tudo, um formando nesta área (seja ele sonhador, jovem sem preferência de curso universitário, membro de uma qualquer jota, potencial político ou eventual estudioso sobre o tema) irá fechar o seu conhecimento sobre a política e a sua aplicação. Estudando este tema do ponto de vista académico, algo que pode ser feito, e com melhores resultados, através da leitura diária de jornais, complementada com várias obras primas de alguns autores históricos, estes formandos vão-se fechar sobre si mesmos e receber as mesmas influências. Logo, percede-se no debate de ideias e começa-se um debate de ideais, menos rico e muito desinteressante.

Além disso, parece-me que, em três ou quatro legislaturas, começará a rarear a pluralidade de profissões e experiências (que já não existe muito, diga-se) na Assembleia da República, nas colunas dos jornais e nas tertúlias políticas, hoje em dia maioritariamente electrónicas.
Adicionalmente, preocupa-me que se feche a política e a sua discussão. Quanto mais os políticos e opinadores estudarem política, menos vão perceber do mundo que está fora dessas portas. E isso vê-se com o grande vazio de ideias que se sente no debate político em Portugal: discutem-se as estratégias partidárias de partidos, quando se devia debater o seu futuro com base na sua génese; debate-se o que devia ser a Europa quando se tem de perceber o que pode ser a Europa e como se pode alcançar isso; pensa-se no superficial face ao essencial.
Dá-se espaço para que a política se pense de cima para baixo, quando se devia começar a pensar pelas necessidades dos cidadãos.

No entanto, há que ressalvar que o estudo de Ciências Políticas tem uma grande vantagem: para quem quer seguir o caminho da política ou da opinião este é o curso a seguir. A rede de conhecimentos que se cria desde a universidade abre inúmeras portas e o caminho para este fim é mais fácil. Não quer isto dizer, atenção, que não há pessoas de muito valor nesta área. Pelo contrário. Apenas penso que estas podiam ser melhor aproveitadas, especializando conhecimentos em segurança social, economia, direito, antropologia ou história (entre muitas outras áreas, da qual excluo direito, o curso equivalente a Ciências Políticas para as gerações acima dos 35 anos). Ao invés, estudando Ciência Política, aprende-se um pouco de tudo, o que tem efeitos nefastos. Resumindo, este é o curso dos Políticos Profissionais, o que, diga-se, não abona nada a seu favor.

Disclaimer: Não tenho qualquer interesse político, o meu curso universitário também me serviu de pouco e tenho amigos, os quais considero muito inteligentes, que estudam esta área. Este post é uma análise (básica) e não uma crítica.