28.7.09

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Um dia, enquanto vageava sozinho pela rua por onde ia para casa, reparou naquilo que parecera sempre lá estar: uma fila composta por alguns dos melhores livros do mundo tapava aquilo que parecia ser um velho, deitado, sem roupa. Comprou três. Um dia mais tarde, quando voltou a descer a rua, sozinho, encontrou tudo na mesma posição. Os livros vendidos não tinham sido substituídos e, pelo espaço por eles deixado, não se via pele. O velho já não estava nu, vestia uma camisola, talvez comprada com o dinheiro dos três livros que tinha vendido. Satisfeito, decidiu comprar dez livros. O espaço livre, anteriormente ocupado pelas obras da literatura, deixava mostrar desde os joelhos até à pila mirrada, mas estranhamente limpa e com os pêlos púbicos aparados. No dia seguinte, ainda sem ler qualquer um dos livros, voltou a descer a rua, agora mais rápido, até que, olhando pelo buraco deixado pelos últimos dez livros que comprara, viu umas calças castanhas. Sorriu. E comprou os restantes livros. Viu a cara do senhor. Barba de três dias e ar composto. Ao quarto dia, voltou a descer. No fundo da rua, antes da esquina que sempre lhe chamava a atenção, viu o senhor. Estava morto. Vestido com um bonito fato azul, mas morto. Perto dele, uma senhora de vestido negro comentava que "ele vivia para mostrar os seus livros". Ao quinto dia seguiu directo para casa.

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