31.5.10

nothing changes (II)

(cont.)

Então, desde que levara um tiro na cabeça do seu antigo colega de secretária na 2ª e 3ª classe, nunca mais foi o mesmo. O seu sonho era poder dizer “eu vou matar à paulada o filho da puta do carteiro que disparou contra mim”, mas a bala que lhe atravessou o lobo frontal do cérebro incapacitou-o de ter emoções ou sentimentos: nem, “ao menos sobrevivi”, conseguia sentir. Depois de quatro meses no hospital, teve alta. Regressou à casa onde foi baleado, limpou ele próprio o sangue ressequido que uns meses antes lhe escorreu da cabeça e decidiu jantar fora. A última vez que comera fora da prisão, de casa ou do hospital havia sido no dia anterior a espancar o turista espanhol. Nesse dia estava acompanhado da sua namorada, o que o levou a recuperar a sua antiga agenda telefónica e a convidá-la para jantar. Não se lembrava dela, mas calculava que devia ser paciente. Após o telefonema sabia que ela estava divorciada, era mãe de gémeos siameses ao mesmo tempo que mantinha o cargo de directora de vendas de um concessionário automóvel online, gostava de comida mexicana, já não jantava fora há sete ou oito meses, período que coincidia com a última vez que tivera sexo com algo que não o seu dildo, vibrador ou chuveiro de massagem, e que estava disponível para jantar no dia seguinte, pelas 20h00.

18.5.10

carta aberta à presidência

Senhor Prof. Cavaco Silva, eu nunca irei apanhar no cu só porque estamos em crise. Obrigado.