23.1.08

personagem surreal

Podia ser feliz. Mas quero ser perfeito. Pensava isto sentado à mesa do pequeno-almoço, meio a dormir. Matava a fome com pão quente e queijo e um sumo de laranja natural, o que lhe tinha retirado 45 minutos de sono, algo que o ia deixar rabujento o resto do dia. Vivia assim a sua vida. Em cima dos ombros, tinha o peso de uma auto-exigência semelhante àquela que um mãe tem para com um filho. E não era feliz, apesar de se dar bem na vida. Pensava na vida, como quem joga um jogo de xadrês, tentando não errar. Analisava jogos passados e percebia os erros, mas era lento demais para antecipar jogadas pelas quais já tinha vivido. Irritava-se com isso. Odiava pessoas tímidas, tótós, atadas, com pouca auto-confiança e com rara capacidade de decisão. Mas sentia-se assim. Odiava-se nos dias bons e adorava-se nos dias maus, o que o tornavam uma das pessoas mais instáveis do mundo. Mas também detestava pessoas instáveis. Queria paz, mas era incapaz de estar quieto. Queria sempre mais, numa insatisfação impaciente que lhe corroía a pouca auto-estima. Sentia que cada segundo de paragem era um desperdício de pulsações cardíacas. Morreu com um ataque cardíaco, vítima do nervosismo constante, logo ele que se achava uma pessoa calma.

Sem comentários: